Cotidiano

Maior parte de desaparecidos em RR é de adolescentes que ‘fogem de casa’

Na quase totalidade dos registros policiais, o desaparecimento se trata de adolescentes do sexo feminino que “fogem” para festas ou com o namorado

Segundo dados do Núcleo de Investigação de Pessoas Desaparecidas (Nipd) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil de Roraima, neste ano, dos 16 casos de desaparecimentos registrados até o dia 30 de junho, 15 foram solucionados e somente um está em andamento. Em 2014, foram registrados 517 casos. Desses, 376 foram solucionados e 141 ainda estão em andamento.

Segundo o diretor do DHPP, Egídio Queiroz, o Núcleo registra, na maior parte dos casos, adolescentes do sexo feminino, na faixa de 17 a 18 anos, que saem de suas casas e retornam dias depois motivadas por algum namoro ou certos problemas familiares. Em quantidade menos expressiva, existem também as situações que envolvem o uso de drogas lícitas e ilícitas.

“Mas as situações que já verificamos junto ao NIPD, inclusive através de dados, apontam que o número dos desaparecimentos tende a subir em determinadas épocas de eventos festivos: os jovens saem de casa durante todo o fim de semana sem avisar suas famílias, mas em quase 100% dos casos acabam retornando”, disse o diretor.

Queiroz mencionou o caso da adolescente de 13 anos que, na terça-feira da semana passada, foi encontrada desacordada na RR-205, rodovia estadual que liga Boa Vista ao Município de Alto Alegre, a Centro-Oeste do Estado. A jovem teria sido vítima de estupro coletivo de outros cinco adolescentes. A menina negou o estupro em depoimento à polícia, mas confirmou que eles fumaram maconha e ela teria ingerido bebida alcoólica.

O diretor do DHPP chamou atenção para o fato de que a adolescente estava há quatro dias sem dormir em casa e, mesmo com a ausência, ninguém da família buscou a polícia para registrar o sumiço. “A família não comunicou o desaparecimento da jovem às autoridades, e a polícia não recebeu informações sobre este caso em específico”, frisou.

Egídio Queiroz acredita que a comunicação com a família é uma peça-chave para a rapidez das investigações e localização dos desaparecidos. “É fundamental para a solução do caso, justamente para dar uma resposta rápida e evitar uma possível piora da situação. Tanto que quando tomamos ciência de alguma situação, uma das primeiras providências é manter em contato estreito com os familiares”, disse.

Ele ressaltou que ao contrário da crença popular, não existe um prazo específico para que a família ou os responsáveis do desaparecido procurem as autoridades, além da observação de sua rotina e afazeres diários. “Não recomendamos que demorem em avisar. Existe até legislação neste sentido. Antes, havia a prática de se esperar 24 horas até que começassem as investigações. Mas isso não existe, nem de fato e nem de direito. A partir do momento em que a família entende que a pessoa desapareceu e não retornou num prazo razoável, é preciso comunicar as autoridades imediatamente”, destacou o diretor.

O DHPP não tem registros de desaparecimentos envolvendo tráfico de pessoas ou prostituição de menores de idade. Os casos mais sérios se limitam a outro perfil: o desaparecimento de adultos do sexo masculino, em geral com envolvimento em algum tipo de atividade ilícita. A maioria está ligada ao uso ou tráfico de drogas.

“Neste ponto, notamos uma grande parcela de pessoas que, em geral, pela vida que levam, acabam criando para si uma situação de vulnerabilidade, que pode ocasionar nestes casos de desaparecimento e até mesmo eventuais homicídios. Óbvio que as pessoas de bem podem sofrer algo em relação a isso, mas o percentual sempre é mínimo”, destacou. (JPP)